Talvez com um ano de atraso em relação ao resto da Humanidade mas finalmente lá arranjei tempo para ver os Jogos da Fome. Confesso que comecei a vê-lo com alguns preconceitos, esperava mais um filme sobre uma sociedade distópica a viver mais uma guerra de escassez.
Acaba por ser uma introspecção sobre o refinado espectáculo que gostamos de assistir desde os Gladiadores, agora cruzado com o Truman Show e Casa dos Segredos, com a Teresa Guilherme a ser substituída pela dupla Elizabeth Banks / Woody Harrelson, o actor principal do “Natural Born Killers”. Este espectáculo, que começara como um castigo, uma lembrança política das consequências de uma revolta, tornou-se rapidamente num espectáculo degradante gerido com a mestria de um bom programa televisivo. E como era algo completamente contra a natureza humana só foi permitido que durasse... 75 anos.
Aplaudi a fotografia e os actores e ao mesmo tempo não consegui sacudir a estranha semelhança entre a Cornucópia no centro da Arena a Casa da Música no Porto. Aconselho a todos que o vejam pela perspectiva que nos dá de nós próprios e irei obviamente ver o terceiro e quarto filme desta trilogia mesmo sendo um argumento sem grandes surpresas: os maus são castigados e os bons recompensados. Continuar a ver porque é divertido e está feito com esforço e dedicação por pessoas cujo emprego é fazer com que as pessoas se distraiam e não pensem nos verdadeiros problemas.
... Aliás, logo no inicio apresenta-nos a pergunta mais relevante dos Jogos da Fome: "E se deixássemos de assistir?"
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