Thursday, 21 November 2013

Raspas de Cobre



Há muito, muito tempo atrás, uma pequena empresa tinha um TELEX, um elemento esforçado da grande engrenagem da empresa, que representava na altura o pináculo da tecnologia e permitia um contacto quase instantâneo com os ricos clientes e simpáticos fornecedores.

Os anos passaram e o TELEX foi considerado obsoleto: era a época do Telefax ou telecópia (ou apenas fax), essa maravilha dos anos 80 que permitia enviar instantaneamente pedidos e informações em folhas A4 que eram recriadas por escribas electrónicos directamente no escritório dos ricos clientes e simpáticos fornecedores.

E como o mundo não pára, eis que chegam os loucos anos 90 e com eles o acesso à Internet, essa estranha rede de computadores à qual se acedia por modems capazes de velocidades minúsculas para os tempos actuais mas, mesmo assim importantes para o negócio da empresa.

A ligação Internet tem muitas coisas curiosas e uma delas é a forma como se comunica com todo esse mundo de computadores: Foi apenas uma evolução natural que fez com que o modem de 14.4 Kbps fosse substituído por uma linha RDIS com 64 Kbps e alguns anos mais tarde chegamos à gloriosa época do ADSL.

Por alturas do ano 2000, após percebermos que o mundo não tinha acabado conforme anunciado, dedicamo-nos a problemas mais mundanos: reclamar com a PT da qualidade das linhas, porque ouvíamos mal os ricos clientes e simpáticos fornecedores. E o nosso fornecedores de telecomunicações informou-nos logo "Fiquem descansados que por serem clientes empresariais, muito importantes para a PT Negócios, iremos dar uma solução imediata a este problema!"

Mas... a solução tardava em aparecer. À chegada de cada Inverno surgiam os problemas de ligação, os ruídos de crepitar, as chamadas caídas, o acesso ADSL que deixava de funcionar.

Pois, o problema é que o cabo anterior que já vinha dos tempos do TELEX, essa colecção de remendos de cobre e caixas de rua semi-destruídas que nos ligava à central da PT já acusava alguns problemas mesmo nos tempos do saudoso TELEX e só por uma sucessão de infelizes acontecimentos conseguiu sobreviver até 2004. Por uma também infeliz coincidência, era precisamente essa colecção de remendos que mantinha todas as comunicações da empresa, tão importantes para trocar informações com os ricos clientes e simpáticos fornecedores.

Mas tudo iria mudar em 2004: Finalmente teríamos um cabo com 10 pares (dez!) que vinha directamente do interior da central até às instalações do cliente e iria assegurar as ligações em grande velocidade e conforto.

De promessa em promessa, assistimos à chegada do cabo (dourado), esse sebastião que nos ligaria directamente à central da PT em substituição do cabo anterior que iria gozar uma merecida reforma no paraíso dos cabos de cobre do século passado.

(As "raspas de cobre" e o ponto de chegada do "cabo dourado")

Faltava apenas o "baldeamento", expressão técnica que se usa para o processo de desligar um par de fios num quadro de ligações e ligá-lo um pouco mais ao lado. Um acto singelo que não demoraria mais do que 3, talvez 5 minutos. Mas...

O ano de 2004 passou e chegou 2005 (e depois os seus irmãos). O baldeamento não ocorria. Continuaram guardadas as garrafas de champanhe que seriam usadas para celebrar a entrada nessa grande época comunicações estáveis. E todos os invernos, sem falta, os telefones falhavam, as chamadas caiam e os routers ADSL redobravam esforços para manter as comunicações a fluir.

2006 foi o ano da proposta da OPTIMUS. E o novo operador promete-nos o almejado baldeamento dos serviços. Agora sim, seriamos libertados da idade das trevas e tudo funcionaria.

Mas... afinal as coisas não correm tão bem como os delegados comerciais da OPTIMUS prometem. O baldeamento não ocorre, os problemas técnicos sucedem-se e juntam-se-lhe alguns problemas comerciais habituais em qualquer relação com a OPTIMUS.

7 anos depois, estamos em 2013. Terminamos os contractos com a OPTIMUS e mudamos todas as comunicações para a VODAFONE. Os serviços, esses continuavam a existir nas mesmas raspas de cobre que a PT insistia em usar para nos ligar à sua central.

E o inverno chegou. E com ele as falhas habituais nas ligações e o drama de ligar para o operador a reclamar de uma linha insiste em não funcionar.

A VODAFONE atende prontamente e diz "Fiquem descansados, isso é um problema da PT, mas iremos colocar aí amanhã um Kit de Intervenção para que possam continuar a trabalhar." Soube então que o Kit de Intervenção era um telemóvel que fingia ser uma linha da PT. Os nossos serviços funcionavam sem grandes problemas e a VODAFONE ia fazendo testes e insistindo que o problema seria do lado da PT enquanto a PT insistia que era do lado da VODAFONE.

A teima acaba no dia da "intervenção conjunta" quando chega uma equipa da VODAFONE e outra da PT e determina-se o que já estava mais que determinado, que  o cabo (ou o "remendo de raspas de cobre") estaria partido a 350 metros do escritório.

A PT iria agora remendar mais uma vez.

Mas... eis que o técnico da VODAFONE, com indicações expressas de não aceitar essa resposta, dá a instrução para que a PT usasse o outro cabo, o tal de 2004 que estava desemparado e sozinho, sem uso nos últimos 8 anos (sem uso, se excluirmos um circuito ADSL de 16 Mbits que foi lá instalado há uns meses e que obviamente não acusava nenhum destes problemas.)

"Baldeie-se, então!" é a ordem que se repete ao telemóvel para o colega que está na central da PT.
Eis que após 8 minutos (E 8 ANOS!) todas as comunicações voltam a funcionar e a empresa é transportada para o Século XXI.

Este momento quase que me fez vir as lágrimas aos olhos.

Esta história diz muito sobre a PT, sobre a OPTIMUS e sobre a VODAFONE.

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